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Os Filmes Perdidos de Cornélio Pires

 A História:

No início dos anos vinte, Cornélio Pires já gozava de certa fama e reconhecimento no meio cultural e artístico paulista e Brasileiro, suas conferências caipiras tinham atingido seu auge e conquistado seu espaço dentro das altas classes da sociedade, que pagava caro para ver o comediante contar seus contos e causos e assistir as  apresentações dos caipiras com suas modas e desafios nos palcos dos teatros em São Paulo e pelo Brasil.

 

“Brasil Pitoresco”:1924

 

Em janeiro de 1923, logo depois de adquirir uma máquina filmadora, uma raridade para a época, o escritor e poeta uniu-se ao cinegrafista Flamínio de Campos Gatti e empreendeu uma viagem ao nordeste, afim de registrar os diversos costumes e as manifestações culturais das diferentes regiões do Brasil, principalmente em seu aspecto social e humano. Com vários rolos de filmes virgens, Cornélio e Gatti embarcaram para Santos. O filme começa apresentando alguns monumentos em São Paulo e imagens da “Bolsa do Café” em Santos, a agitação nas ruas com seus bondes e pedestres. Da Cidade de Santos os dois aventureiros passaram pelo Rio de Janeiro, subindo para a Bahia onde foram recebidos pelo então governador Góis Calmon, subiram o estado passando e registrando imagens de cidades como Ilhéus, Vitória da Conquista, Feira de Santana entre

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outras. Em Alagoas, Cornélio Pires também foi recebido pelo chefe do estado. Partiram de Maceió para Pernambuco onde registrou imagens de Recife e Olinda. Foram meses de trabalho e o produto final tinha se tornado um rico e inédito acervo de imagens das principais cidades do Brasil, seu povo, costumes e delicadezas que registram as diversidades de um país e de uma época. O filme foi montado recebendo o nome de “BRASIL PITORESCO” e segundo “Jofre Martins Veiga” em “A Vida Pitoresca de Cornélio Pires” o negativo da fita foi entregue anos mais tarde á Universidade de São Paulo pelo próprio escritor e se tornou um importante documentário e considerado o “Primeiro Filme Independente do Brasil”. As cópias foram exibidas em todo território nacional, uma delas foi projetada na sala de conferência da Sorbonne, em Paris. O pesquisador Macedo Dantas, em seu livro “Criação e Riso, sobre a vida e obra de Cornélio Pires diz não ter encontrado em suas pesquisas nenhum dos filmes.

 

“Vamos Passear”:1935

 

Em 1934, Cornélio Pires resolveu levar o caipira para o cinema, então reuniu pela última vez a sua famosa “Turma Caipira” para as filmagens do seu documentário “paisagístico e folclórico”, o qual denomino-o “Vamos Passear”, como se fosse um convite a um passeio pelo “mundo caipira”. No início são imagens da mata ciliar do rio Tietê, apresentando sua fauna e flora, com algumas imitações de Arlindo Santana, mas a intenção é denunciar claramente, já naquela época, a caça predatória e o corte indiscriminado de várias espécies de árvores influenciando diretamente biodiversidade da região do alto-médio Tietê. Logo em seguida o próprio Cornélio Pires aparece apresentando os caipiras que apresentam suas modas como o “Samba Paulista” entre outras. As filmagens aconteceram ao ar livre no parque do Jaboaquara em São Paulo usando como cenário o mato para imitar a roça do interior, era filmado com uma máquina á manivela, sistema movetônio. A imagem ficou clara e o som perfeito.

A dupla piracicabana Mandy e Sorocabinha são os astros principais do filme e aparecem interpretando as modas, entre elas a moda do “Imposto do Selo”, que era revolucionária para a época, criticava severamente a política de impostos adotada pelo então presidente Getúlio Vargas. Alm do próprio Cornélio Pires, e da dupla Mandy e Sorocabinha, se apresentam como “A Turma Caipira de Cornélio Pires” José Antônio de Godoy (José Sorocaba), José de Godoy (O Parentão, primo do pai de Sorocabinha), Joãozinho Vieira (cantador de cururu), Antônio Venâncio (também cantador de cururu), Mandy e seu filho Tato, Sorocabinha e seus filhos que ainda eram crianças.

O filme foi exibido em São Paulo e em Piracicaba, terra dos violeiros protagonistas, e durante a última excursão da Turma Caipira de Cornélio Pires à Alta Sorocabana. Hoje o filme é raro e é o primeiro registro de imagem e áudio da música sertaneja e caipira no Brasil.

 

 

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