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CORNÉLIO PIRES – BIOGRAFIA

Filho de Raimundo Pires de Campos Camargo e Ana Joaquina de Campos Pinto, Cornélio Pires nasceu no dia 13 de julho de 1884, no bairro do Sapopemba na cidade paulista de Tietê, e morreu de câncer na laringe no dia 17 de novembro de 1958, na capital de São Paulo.

cornelio

Quando criança, Cornélio Pires viveu a maior parte dos seus dias onde nasceu e foi batizado, caçando, pescando e andando ás margens do grandioso rio Tietê, no sítio da sua madrinha e tia avó “Nhá Bé”.

Aos doze anos começa os estudos com Antônio Cassimiro, um desses mestres-escolas ambulante muito conhecido na época. Herculano Silveira, Alexandre Hummel, Francisco Assis Madeira e Justiniano Freire da Paz também foram mestres do nobre poeta.

Quando Raimundo Pires mudou-se para a cidade, Cornélio Pires frequentou o grupo escolar “Luiz Antunes” localizado no centro da cidade de Tietê. Muito cedo, com 14, 15 anos, foi contratado pelo jornal “O Tietê” na sua terra natal como aprendiz de tipógrafo, onde conheceu a profissão e tomou gosto pela imprensa.

Logo com 17 anos, Cornélio deixa a tranquilidade do lar em Tietê e partiu para ganhar a vida em São Paulo, primeiro como “sapo” nas redações dos grandes jornais paulistas da capital, depois como jornalista, poeta, contista e folclorista. Em 1904, trabalha bem como repórter fazendo ótima cobertura da revolta contra a vacina obrigatória no Rio de Janeiro. Cornélio ficava na estação norte de São Paulo, esperando os trens que vinham carregados de desgostosos fugindo da capital e da obrigatoriedade da vacina. Lá colhia informações recentes sobre a revolta sem sair de São Paulo.

Em sua carreira como escritor publicou 24 livros, o primeiro, intitulado Musa Caipira em 1910. O livro é um marco na literatura brasileira, pois apresenta as primeiras “poesias dialetais” registradas em livro no pais. Neste mesmo ano Cornélio Pires, apresentou no Colégio Mackenzie, hoje Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, um espetáculo que reuniu catireiros, cururueiros, e duplas de cantadores do interior e foi um sucesso.

Seria a primeira vez que a cultura raiz caipira paulista se apresentara em palco na capital São Paulo. O Colégio Mackenzie foi fundado e sempre mantido pela Igreja Presbiteriana, à qual Cornélio Pires pertencia. Devido ao sucesso resolveu montar um show humorístico, com anedotas, causos e imitações caipiras encerrando com apresentação de duplas de violeiros e cantadores de modas.

Viajou o Brasil levando através dos seus shows e livros e palestras caboclas a tradicional cultura raiz paulista. Suas publicações sobre o homem e a vida caipira lhe renderam o título de “Bandeirante do Folclore Paulista”.

Já conceituado e reconhecido como grande jornalista e escritor, participa ativamente das comemorações do centenário da independência do Brasil proferindo palestras e apresentações ao lado do maestro Eduardo Souto.

Dirigiu seu primeiro filme, “Brasil Pitoresco” em 1924, que retrata a sua grande viajem de por várias cidades litorâneas brasileiras, apresentando características e aspectos sociais de diversas comunidades e grupos do Brasil.

Atinge o auge como escritor ao lançar em 1924 seu mais famoso livro; “As estrambóticas aventuras de Joaquim Bentinho” a partir daí o sucesso foi tamanho que no final da década de vinte Cornélio Pires se tornara o escritor que mais vendeu livros no Brasil naqueles anos.

Em 1929, através do selo Columbia, representado no Brasil de então por Byington & Company , gravou em discos 78rpm, a primeira moda de viola lançada nacionalmente no Brasil; “Jorginho do Sertão”. Num total de 53 discos, além da músicas a coleção traz também piadas, causos e contos as diversas manifestações culturais e artísticas do povo.

Cornélio Pires foi o primeiro artista a gravar de forma independente no país, já que teve de bancar do próprio bolso, ele próprio, a sua famosa série de discos conhecida por ter o selo vermelho.

Mistura de poeta, escritor, compositor, contador de casos, conferencista e humorista, roteirista, produtor e diretor, Cornélio Pires foi uma espécie de showman da cultura caipira, sem dúvida o primeiro “stand up” brasileiro. As expressões verbais e dialetais criadas e citadas por Cornélio Pires em seus livros e discos são utilizadas e encontradas até hoje em cidades do interior de São Paulo e Brasil.

No livro “Conversas ao Pé do Fogo”, Cornélio Pires faz uma descrição detalhada dos diversos tipos de caipiras e, ainda no mesmo livro, ele publica o seu “Dicionário do Caipira”. Na obra “Sambas e Cateretês” recolhe como um estudioso que era inúmeras letras de composições populares, muitas das quais hoje teriam caído no esquecimento se não tivessem sido registradas nesse livro.

A importância de sua pesquisa é reconhecida nos meios acadêmicos no uso e nas citações que de sua obra faz Antonio Candido, professor na Universidade de São Paulo, o nosso maior estudioso da sociedade e da cultura caipira, em seu livro; “Os Parceiros do Rio Bonito”.

Foi o primeiro a conseguir que a indústria fonográfica brasileira lançasse, em 1929, em discos de 78 Rpm, a música caipira. Segundo o professor Pedro Macerani em seu livro “A Turma Caipira de Cornélio Pires” , Cornélio Pires é o pai da música sertaneja; “Quando Cornélio Pires apresentou os caipiras para São Paulo e para a modernidade, também estava apresentando São Paulo e a modernidade para os caipiras, foi a partir desse momento, quando o elemento moderno passou a fazer parte do cenário lúdico do caipira que surgiu a música sertaneja, essa transição acontece dentro dos discos da coleção da Turma Caipira” afirma Macerani.

Em 1935 principia suas famosas palestras na rádio difusora de São Paulo, onde apresentava seus discos, piadas, anedotas e apresentações musicais e folclóricas com duplas caipiras e violeiros. O programa era largamente ouvido no interior se São Paulo e Brasil. No mesmo, ano com intuito de levar o caipira para as telas de cinema, dirige seu segundo filme; “Vamos Passear” onde Sorocabinha e Mandy se apresentam, em foco principal, tocando e cantando duas modas com um grupo de caipiras acompanhando com instrumentos musicais típicos do caipira paulista.

O filme é histórico e considerado o primeiro filme “sonoro” independente do Brasil.

Durante a década de quarenta torna-se espírita, escrevendo três livros sobre o assunto. Em 1945 publica seu último livro; “Enciclopédia de Anedotas e Curiosidades”

No ano seguinte encerra suas atividades como escritor e jornalista e funda o “Teatro Ambulante Gratuito Cornélio Pires” que no final da mesma década foi exclusivamente bancado pela Companhia Antártica Paulista S/A. Cornélio trabalhou para a companhia em seu teatro ambulante até o fim dos seus dias.

Cornélio Pires Faleceu em São Paulo em 17 de Fevereiro de 1958.

Fonte;
Macedo Dantas; Criação e Riso
Jofre Martins Veiga; A Vida Pitoresca de Cornélio Pires
Pedro Macerani; A Turma Caipira de Cornélio Pires
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